segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O Brasil odeia seus ídolos

>> Delegação brasileira "fracassa" no mundial de atletismo, mas a torcida da imprensa e do público era exatamente para que isso acontecesse (foto: EFE).




Fim do Campeonato Mundial de Atletismo. Saldo final para o Brasil: 0 medalha. Quem acompanha o esporte sabe que o resultado era até esperado e que houve, sim, boas performances de atletas brasileiros em Moscou. No entanto, quem conhece a fundo o atletismo no Brasil mesmo?

A imprensa esportiva, não. Basta dar uma pesquisada nos títulos das matérias sobre o assuntos nos grandes portais da internet. A colocação final de qualquer brasileiro que não alcança no mínimo o pódio é anunciada com aquela típica palavrinha mágica na frente: "apenas". Duda salta bem, mas é apenas o quinto na final do salto em distância. Murer não defende o título mundial e fica apenas na quinta colocação. Como se ambos, e todos os demais atletas da delegação nacional, tivessem o amplo favoritismo à medalha de ouro. Ninguém tinha.

Imaginemos um mundo ideal em que os jornalistas de "outros esportes" (como esses sites frequentemente se referem à modalidade-símbolo dos Jogos Olímpicos) tivessem conhecimento do assunto e repassasse essas informações aos seus leitores/espectadores. Duda está bem, mas tem saltado na casa dos 8,20 metros neste ano, ainda precisa melhorar um pouco suas marcas para medalhar numa grande competição outdoor. Murer é a atual campeã mundial, porém já teve dificuldade na classificatória e possui como melhor salto da temporada 4,73 metros, precisaria fazer algo que não conseguiu o ano inteiro para chegar ao pódio.

E o público vai junto. Se você tiver coragem (e estômago), desça até os comentários dos leitores dessas matérias. Você encontrará uma - se tanta - mensagem de apoio ao atleta em questão. Todos os demais textos incluirão palavras-chave e de facílima replicação sem qualquer raciocínio prévio como "amarelar", "vergonha nacional" e (se segurem) "acorda, Brasil!". 

Junte a preguiça da imprensa futebolística com a crueldade do público que só acompanha os esportes olímpicos na hora da crítica, e dá nisso. O Brasil odeia seus ídolos. O público, desde que liberaram os comentários nas matérias online, acha que pode meter o pau em todo e qualquer atleta que não seja o melhor do mundo. Quando este é o caso, a torcida é para que o atleta fracasse de forma categórica na competição seguinte.

Porque os internautas se sentem mais próximos dos "ídolos" quando eles fracassam. Ninguém gosta de exemplos de superação no Brasil. O sucesso pertence a atletas estadunidenses e europeus. Os brazucas devem sentir o mesmo fracasso que todos os comentaristas online vivenciam em seu cotidiano medíocre.

"Recalque" diriam os jovens. É isso mesmo. Cielo é tricampeão mundial, mas foi "apenas" bronze em Londres, lembram? Poliana Okimoto conquistou três medalhas em Barcelona, mas "amarelou" nas Olimpíadas, estão lembrados? Se Phelps fosse brasileiro, dariam um jeito de ressaltar mais as duas pratas e dois bronzes olímpicos do que as 18 douradas.

2 comentários:

  1. Ótimo texto e concordo com a maioria do que você escreveu. Porém, existem outros dois pontos. 1 - Brasileiro está carente de ídolos. Senna, Guga Pelé, Ronaldos não surgem a cada ano (Cielo ressurgiu agora) e o brasileiro não vai ter o costume de tratar como ídolo da vida um nadador, a não ser que ele queira ser nadador. O brasileiro vive de momento e na natação a periodicidade das competições não ajudam.

    Melhor do mundo no futebol é argentino, no atletismo é o bolt, fórmula 1 o Brasil virou eterno vice com Barrichello e Massa e etc. Tênis - Brasil não tem ninguém entre os 100 primeiros do ranking.

    2- O trabalho feito pelos Comitês de esportes do Brasil é fraquíssimo. É só ver na ESPN. Sempre tem reportagem falando disso. Gastam uma grana absurda, mas da maneira errada. Um exemplo: Tinha mais pessoas COB do que atletas no Mundial de Atletismo.

    Então, tudo isso colabora para o brasileiro não ter ídolos e não amar, ou até odiar os seus ídolos.

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  2. Opa!
    Concordo com a má organização das confederações brasileiras. Aliás, nada contra, mas brasileiro não costuma dar o exemplo na organização de nada né...
    Mas quanto aos ídolos, sei lá, acho que é mais uma relutância do público e da imprensa, quase que uma esperança messiânica de que surja O nosso salvador esportivo (de preferência no futebol). Temos bons nomes em váárias modalidades (pq o Zanetti não é amado, idolatrado, salva-salve?), o judô brasileiro é se não O melhor do mundo, está no top 3... Mas quem se importa? Pouquíssima gente. Poderia ser diferente, beeem diferente.
    Obrigado pelo comentário, a propósito, Chaguri!

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